O que é mesmo o brincar infantil?
O brincar é um impulso da criança, pura expressão, que corre como um rio e nós
adultos somos as margens que servem de sustento para essa corredeira. O brincar
é como uma força da natureza, como as águas do rio, para as quais não podemos
ensinar nada, pois elas correm por si.
Damo-nos conta que as crianças em
muitos lugares não têm mais o direito de brincar pelo simples prazer da
brincadeira. Parece que tudo o que está relacionado com o brincar precisa
render conhecimento imediato. Os adultos idealizam que os brinquedos têm que
ser pedagógicos. Já se perdeu o bom senso do que é ser criança, da necessidade
que ela tem e dos processos infantis necessários para o seu desenvolvimento.
No mundo infantil não deveria
caber a palavra “pressa”. Leva-se tempo para crescer, para construir um corpo
saudável que sirva de base física para todo um desenvolvimento anímico
espiritual posterior. Para isso temos a infância, que deveria ser permeada
pelo: brincar; desenhar livremente; natureza – terra-água-areia; correr-
balançar - pular corda; atividades caseiras para a criança imitar; ritmo
saudável; bom sono; boa alimentação; espaços amplos; etc.
O que vemos hoje são muitos pais
e mães brincando com seus filhos no sentido de direcionar o seu brincar, sem
deixar que surja espontaneamente, porque os seus filhos já não sabem mais como
brincar.
Esta é uma capacidade que esta se
perdendo, pois o meio social deixa a criança muitas vezes isolada de outras
crianças, ou sem ter os adultos fazendo algo que possa ser imitado por ela,
como por exemplo, um adulto fazendo um trabalho caseiro, limpando um carro,
lavando uma roupa, cozinhando, arrumando algo na casa, serviço de marcenaria,
cuidando de um jardim, afazeres úteis e com significado para a criança.
O que se vê em contrapartida são
brincadeiras agressivas, violentas, tiros, chutes e gritos, que brotam de
imagens vivenciadas na frente da televisão ou jogos eletrônicos.
Somente no brincar a
individualidade da criança é misteriosamente visível, quando ela “ensaia” de
modo lúdico - brinca, atua, cria, se relaciona, constrói, experimenta, refaz -
tudo o que depois será requisitado quando adulto. Isto é, se mostrar firmemente
situado na vida e tomando decisões responsáveis. Por isto o brincar na infância
fundamenta como nos direcionaremos ativamente e mentalmente em relação à vida,
quando adultos.
Partindo deste panorama, como
podemos resgatar esta atividade tão vital para a criança? Como podemos ser
facilitadores deste brincar? Certamente é um caminho de aprendizagem.
O que ajuda a criança a entrar no
âmbito da imaginação é se os pais/educadores acessarem suas próprias forças
imaginativas e lúdicas. Contando contos, histórias infantis sem pedir que a
criança elabore um julgamento ou comente a história.
Participando daquele momento
ouvindo o conto e simplesmente entrando nas imagens, sem indicações ou
interferências do adulto. Os pais deveriam contar contos pelo prazer de contar
e viver os contos junto com as crianças.
Deste modo se possibilita
momentos de criação mágicos onde “o tempo para” e as crianças se sentem
encorajadas a brincar a partir da profundeza de suas almas, das lindas imagens
dos contos.
(Texto
elaborado pela professora de jardim Waldorf Silvia Jensen baseado no Congresso
de Pedagogia Waldorf em Boston/USA em julho de 2008 em parceria com a
professora de jardim Waldorf Maria Chantal Amarante.)
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